CirculaDança
CirculaDança: nas voltas que a dança dá
É pra viagem? É, mas não precisa embalar. Isso porque falamos de percorrer pensando num fluxo que tem permeabilidade em tempos não fixados. Tratamos de um estar sendo que busca memória, sentido e processo nas repetições, edições e invenções que se percebem mutuamente atravessadas pelos riscos que desenham constantemente novas geografias. Circular é antes de tudo driblar o conforto, é partir com fascínio e generosa inquietude rumo ao desconhecido e intrigante lugar sem nome. É com dança que queremos habitar lugares, e trazer com ela, a dança, a marca física como impulsionador de movimentos a gerar corpos vivos e ávidos por experimentações e trocas. É possível errar a dança. Entoar dissonâncias. Palavrar harmonias. Dizer-se inconclusa. Espraiar silêncios. Perfumar o óbvio. Circular no incerto. Compor desejos. Com esse pensamento, a Bienal Internacional de Dança do Ceará propõe com o programa CirculaDança uma série de ações de fomento à circulação de espetáculos locais, nacionais e internacionais. Aliado a isso, trocas formativas geradas também a partir de residências artísticas, debates, oficinas e intercâmbios culturais envolvendo, além da capital Fortaleza, outras 10 cidades do Ceará.
Canoa Quebrada, Juazeiro do Norte, Barbalha, Crato, Nova Olinda, Guaiúba, Limoeiro do Norte, Itapipoca, Paracuru, Sobral e Fortaleza afirmam, ainda outra vez, através da 2ª edição do CirculaDança, sua existência artística, consolidando um cenário de diferentes tempos e movimentos. Manifestações da tradição popular, companhias de dança com foco contemporâneo e escolas de dança clássica, cruzam-se na programação perspectivando diálogos múltiplos no fazer da dança. Para além das cidades sede, vale ressaltar a participação de Trairi e Tabuleiro do Norte, como cidades que têm seus grupos contemplados na programação, numa forma de reconhecer e estimular trabalhos já desenvolvidos e que contam com pouca visibilidade.
Atenta à demanda formativa em dança, a Bienal através do CirculaDança, propõe como recorte curatorial em 2011 a realização de oficinas e residências com Catherine Legrand e Sylvain Prunenec (França), Graça Martins (Fortaleza), Carlos Simioni (São Paulo), Andréa Bardawil (Fortaleza) e Emídio Sanderson (Fortaleza) em atividades que acontecem em torno de cinco dias, aprofundando formações e, em alguns casos, gerando produções a serem apresentadas dentro da programação do festival, levando assinaturas de reconhecidos artistas que, de outra forma, dificilmente aportariam nesses lugares.
Dessa forma, a Bienal de Dança vem cumprindo um papel importante na política de circulação e formação em dança, contribuindo para a profissionalização dos artistas de diversas cidades do Ceará. Atua também como importante mecanismo de ampliação de plateia ao realizar uma mostra de espetáculos em cada cidade por onde passa, sensibilizando artistas, público e gestores para a existência de outros modos de criação e apresentação de suas obras populares e contemporâneas, que se veem respeitosamente programadas junto a trabalhos nacionais e internacionais.
David Linhares e Cláudia Pires